sábado, 14 de setembro de 2013

Continuando – 2

Nascer é para viver.


Congada Branca  da Chácara Regina - 1979 / 80.
Em frente à residência onde morava, na rua Padre Chico.

Voltando de João Pessoa, estava de cara com a gravidez avançando. Com o recurso do prêmio, cuidei de resolver: médico, exames pré-natal, enxoval. Lembrei que São Benedito carrega o Menino nos braços. No final do ano convidei todas as congadas para irem lanchar na minha casa. Cada dia de festa recebia uma congada. Minha casa era na rua Padre Chico próximo ao Externato São José. Dava tempo direitinho da congada ir lá tomar lanche e voltar para missa e procissão. A Congada Branca também foi. No dia de ano novo, estava na casa de meus pais quando entrei em trabalho de parto. A coisa a evoluiu rápida, de modo que em poucas horas já estava com dores de expulsão num hospital de Bragança Paulista. Minha mãe estava junto. O médico veio e ela intercedeu dizendo: ela já esta com dores de expulsão. O médico virou e disse; como é que a senhora sabe que ela esta com dor de expulsão? E minha mãe respondeu: Porque eu tive doze. Durante 1979 e a filhinha Kátia  já com 8 meses, fui convidada a fazer uma palestra na Câmara Municipal de Atibaia. Quem foi me fazer o convite foi a Lenita Ferreira. O Sandoval, amigo do peito, emprestou um projetor de slides, o equipamento  “de ponta” da época. Na palestra projetei os slides comentando a Festa de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito.

Fotos: Acervo do meu irmão
Cláudio Monteiro da Costa
Me lembro bem de falar da importância de se salvaguardar os espaços de representação do sagrado, considerando os aspectos relativos ao movimento e à performance de forma geral. Comecei a perceber que minha atuação se desdobrava em duas frentes: a primeira, voltada diretamente para as congadas envolvendo-me com as comunidades e ao que realmente interessava; e a segunda, para aqueles que olhavam essas manifestações de outros  pontos de vista, como a comunidade da Igreja da Paróquia de São João Batista, autoridades em geral, o povo da cidade, não pertencentes às congadas. Vi que essa ponte entre esses dois universos distintos me faziam sentido. Ao longo do tempo, da minha vida, o convívio com os congadeiros foi se estreitando e consequentemente foi se tornando cada vez mais difícil, como pesquisadora autodidata, separar: o quanto eu me sentia pertencente aos grupos, tanto quanto à  sociedade atibaiense de forma geral. Ou  ainda, separar minha vivência popular da erudita. Minha forma de conduta criava por si só questionamentos, por uma linguagem não verbal, que confundia a cabeça de muita gente. O que contribuía para essa forma de relação com a cultura popular local, era a minha vivência com a dança, partindo do movimento para a pesquisa do movimento. Aquilo que se aprende pela prática e que se carrega por toda vida. Conhecer a dor de um parto, Maria conhece. José, João e Benedito só podem supor.

Élsie Monteiro da Costa - 14 de setembro de 2013.

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